Para além de não ter a boca na testa com ela, (tinha-a deixado em situações deveras embaraçosas antes) tinha deixado a outra boca em casa.
Deixou-a fechada numa caixa, com algodão, enfiada num saquinho de chita e com fecho, não fosse o Diabo tecê-las.
Colou os sobrolhos numa posição algo estranha, mas nada denunciadora, não fosse o Diabo tecê-las.
Quanto às pestanas, eram poucas, mas resolveu corta-las rentes, para que qualquer pestanejar suspeito ficasse de fora, não fosse o Diabo tecê-las.
No nariz espetou uma mola, bem apertada, porque qualquer cheiro delicioso ou nauseabundo podia provocar um trejeito manhoso, suspeito e...não fosse o Diabo tecê-las!
Achou que seria melhor também atar os braços com uma corda, de lado, para que as mãos não tocassem sequer entre si. Podiam calhar gestos estranhos, uma espécie de sinais secretos e não fosse o Diabo tecê-las!!
Era um pouco coxa, mas até esse coxear podia dar ares de rabear, de balouçar a coxa, por isso atou a perna coxa e foi ao pé coxinho, mas sempre receando que o balouçar da saia fosse pouco respeitoso, quase convite, quase exibindo sua coxidão e inchaço. E não queria nada disso! Não, não, não fosse o Diabo tecê-las, pois!
Mas tal silêncio e quietude era cá um mistério...
-Devo preocupar-me com a tua presença?
- Mnhmmmnhhmmmmm...
Foi a correr a casa, ao pé coxinho, abriu a caixa, abriu o fecho da bolsa de chita, arredou o algodão, colocou a boca no sítio e ainda engasgada com restos de algodão, perguntou ao telefone (sem escutas, esperava):
- Que posso eu dizer?!