sábado, 31 de março de 2012
Cantava muito bem.
Tinha era um grave problema... só a elogiavam quando cantava no banho.
Se era do eco, se o vapor ajudava ou o barulho da água a acompanhar... nunca soube.
Mas como mulher pro-activa (ou pro ativa) que era, resolveu inventar um conceito: concertos de banheira.
Tornou-se famosa, enriqueceu.
Até ao dia que escorregou no sabonete, partiu o pescoço e finou-se.
Se passou a ter uma voz celestial ou uma voz dos diabos é que já não sei.
Tinha era um grave problema... só a elogiavam quando cantava no banho.
Se era do eco, se o vapor ajudava ou o barulho da água a acompanhar... nunca soube.
Mas como mulher pro-activa (ou pro ativa) que era, resolveu inventar um conceito: concertos de banheira.
Tornou-se famosa, enriqueceu.
Até ao dia que escorregou no sabonete, partiu o pescoço e finou-se.
Se passou a ter uma voz celestial ou uma voz dos diabos é que já não sei.
sexta-feira, 23 de março de 2012
—Meu corpo, que mais receias?
—Receio quem não escolhi.
—Na treva que as mãos repelem
os corpos crescem trementes.
Ao toque leve e ligeiro
O corpo torna-se inteiro,
Todos os outros ausentes.
Os olhos no vago
Das luzes brandas e alheias;
Joelhos, dentes e dedos
Se cravam por sobre os medos...
Meu corpo, que mais receias?
—Receio quem não escolhi,
quem pela escolha afastei.
De longe, os corpos que vi
Me lembram quantos perdi
Por este outro que terei.
Jorge de Sena
—Receio quem não escolhi.
—Na treva que as mãos repelem
os corpos crescem trementes.
Ao toque leve e ligeiro
O corpo torna-se inteiro,
Todos os outros ausentes.
Os olhos no vago
Das luzes brandas e alheias;
Joelhos, dentes e dedos
Se cravam por sobre os medos...
Meu corpo, que mais receias?
—Receio quem não escolhi,
quem pela escolha afastei.
De longe, os corpos que vi
Me lembram quantos perdi
Por este outro que terei.
Jorge de Sena
Querido Diário:
Estou num sério queixume; perdi o meu tempo.
Tentei ainda agarrá-lo com unhas e dentes, mas não houve volta a dar...
Como poderei eu lidar com isto?! Estou chorosa, ranhosa, em polvorosa.
Coloquei anúncios em jornais, Facebook, blogs, páginas de perdidos e achados, placards dos supermercados, vidros de cafés e padarias...
Uma miúda que perde assim o seu tempo fica abespinhada, descabelada, levanta voo, cerra punhos, range dentes, ganha vermelhidões, e na certa que deita fumo pelas orelhas.
(Há muitas coisas que deixam uma miúda assim)
Vivendo numa cidade pequena, quase aldeola, bem se pode atar um lenço nas costas de uma cadeira, como qualquer velhinha de aldeia que se preze. Mas o tempo não aparece.
Foi-se, escapuliu-se, esvaiu-se, esfumou-se, voou, foi com o catano!
Bendito e louvado seja Santo António, sol brilhante que em Lisboa, França e
Itália, deu luz a mais rutilante: ó beato Santo António, que ao monte
Sinai subiste; o teu Santo Breviário perdeste, em busca dele voltaste
mui triste e uma voz do céu ouviste: “António, torna atrás, o teu santo
Breviário acharás; em cima dele Jesus Cristo vivo, três coisas lhe
pedirás: o perdido achado, o esquecido lembrado, e o vivo guardado.”
Ainda numa esperança saloia, lança-se a oração a Santo António para achar. Nada.
Tenho para mim que também ele ande à minha procura e num destes dias tropecemos um no outro; lágrimas, gargalhadas, felicidade em mim.
Miúda satisfeita é tod'Amor, toda enlaço, toda vermelhidão de face, mas sem fumo.
Não se recupera o tempo perdido.
Assim, tenho pensado seguir o caminho, aproveitando o tempo, este, o de daqui a pouco, o de amanhã... e chutando uns calhaus que se me atravessam nele.
E não me venham com a léria de guardar as pedras para construir um castelo... É que quando deito fumo, por vezes sabe bem chutar um calhau. Que querem...
Tentei ainda agarrá-lo com unhas e dentes, mas não houve volta a dar...
Como poderei eu lidar com isto?! Estou chorosa, ranhosa, em polvorosa.
Coloquei anúncios em jornais, Facebook, blogs, páginas de perdidos e achados, placards dos supermercados, vidros de cafés e padarias...
Uma miúda que perde assim o seu tempo fica abespinhada, descabelada, levanta voo, cerra punhos, range dentes, ganha vermelhidões, e na certa que deita fumo pelas orelhas.
(Há muitas coisas que deixam uma miúda assim)
Vivendo numa cidade pequena, quase aldeola, bem se pode atar um lenço nas costas de uma cadeira, como qualquer velhinha de aldeia que se preze. Mas o tempo não aparece.
Foi-se, escapuliu-se, esvaiu-se, esfumou-se, voou, foi com o catano!
Bendito e louvado seja Santo António, sol brilhante que em Lisboa, França e
Itália, deu luz a mais rutilante: ó beato Santo António, que ao monte
Sinai subiste; o teu Santo Breviário perdeste, em busca dele voltaste
mui triste e uma voz do céu ouviste: “António, torna atrás, o teu santo
Breviário acharás; em cima dele Jesus Cristo vivo, três coisas lhe
pedirás: o perdido achado, o esquecido lembrado, e o vivo guardado.”
Ainda numa esperança saloia, lança-se a oração a Santo António para achar. Nada.
Tenho para mim que também ele ande à minha procura e num destes dias tropecemos um no outro; lágrimas, gargalhadas, felicidade em mim.
Miúda satisfeita é tod'Amor, toda enlaço, toda vermelhidão de face, mas sem fumo.
Não se recupera o tempo perdido.
Assim, tenho pensado seguir o caminho, aproveitando o tempo, este, o de daqui a pouco, o de amanhã... e chutando uns calhaus que se me atravessam nele.
E não me venham com a léria de guardar as pedras para construir um castelo... É que quando deito fumo, por vezes sabe bem chutar um calhau. Que querem...
sábado, 17 de março de 2012
Tinha desculpa se fosse adolescente
Era uma saudade de outra que não ela, uma nostalgia que não lhe pertencia, de um tempo que parecia ter sido uma outra vida.
Uma náusea. Não pertenço aqui. Não sou eu que sinto; é outra que fui, com outro que foste.
A náusea de sentir em mim a saudade, o retorno de algo que tive (imaginei ter?).
É náusea, nostalgia, saudade, satisfação do retorno? Sou eu que sinto; é outra em mim? E quem retorna; és tu mesmo, outro em ti, aquele que não quis ver ou o que imaginei?
Deixa-se ir... a náusea volta soluçante, tal como a saudade. Não sei se em mim, se em quem fui, não sei se de ti, de quem foste ou se de quem te imaginei.
Mas saudade, sim, agora.
Uma náusea. Não pertenço aqui. Não sou eu que sinto; é outra que fui, com outro que foste.
A náusea de sentir em mim a saudade, o retorno de algo que tive (imaginei ter?).
É náusea, nostalgia, saudade, satisfação do retorno? Sou eu que sinto; é outra em mim? E quem retorna; és tu mesmo, outro em ti, aquele que não quis ver ou o que imaginei?
Deixa-se ir... a náusea volta soluçante, tal como a saudade. Não sei se em mim, se em quem fui, não sei se de ti, de quem foste ou se de quem te imaginei.
Mas saudade, sim, agora.
sábado, 3 de março de 2012
Auxiliares de memória e outras merdas (posso escrever merdas?)
Era um amor assim de novela
beijos e zangas e toda essa trama
um dia a saudade virou grade de cela
foi-se a memória a pele e a chama
perdeu-se ele esqueceu-se ela
Meu xuxu amor meu de cama
preciso ver-te disse-lhe ela
Mas não te conheço traz de rama
uma rosa vermelha na tua lapela.
beijos e zangas e toda essa trama
um dia a saudade virou grade de cela
foi-se a memória a pele e a chama
perdeu-se ele esqueceu-se ela
Meu xuxu amor meu de cama
preciso ver-te disse-lhe ela
Mas não te conheço traz de rama
uma rosa vermelha na tua lapela.
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