Em menos de meio ano acho que a lista destas criaturas cresceu a uma velocidade estonteante. Já sou alvo de chacota de cada vez que surge mais uma história.
Não é fácil. Mas mais difícil é eu não perceber como usar isso a meu favor. Não... isso nada. Se calhar passo a parecer uma destas criaturas e a entrar em lista alheia. Quem sabe!
Hoje nem chegou para ter piada. foi só assustador.
Quem não me conhece, ainda cai no erro de pensar que dou conversa ou seguimento às achegas destas gentes. Nitidamente nunca viram em acção o meu ar ultra antipático e sobrolho nervoso a subir em segundos. Ouve-se quase um rosnar.
Mas há uma informação importante, uma conclusão a que cheguei:
Os xonés gostam de más caras, de respostas desagradáveis, de qualquer comportamento que demonstre desinteresse ou mesmo náusea. Ficam avisados.
Agora uso a expressão de completo desinteresse, surdez, sons indecifráveis e noutros casos indirectas... ou nem tanto.
Mas ainda não encontrei fórmula mágica e os casos acumulam-se.
Pois na infelicidade de escolhas que me é natural, optei, em detrimento da tosta de atum com tomate, no Tropical, apenas com a companhia do meu cadernito e música, pelos nuggets mal amanhados do MacDonalds, sítio que abomino e evito, para tentar ser um ser social ao levar um farnel e juntar-me às colegas no jardim. Primeiro erro.
Duas filas, escolho uma, mudo para outra. Segundo erro. Que me levou ao terceiro e este foi grande: perguntar ao tipo da frente se estava na fila, já que estava meio de lado ou o escamambau. Alguém me devia ter ensinado que mesmo em crescida, não devia falar para estranhos.
Abri as portas do inferno.
Não lhe bastando responder que sim, quis oferecer-me a vez caso eu tivesse pressa e que por vezes existem urgências... colocando-se de frente para mim e numa distância que em muito ultrapassava o limite de segurança e o meu rico espaço pessoal que prezo p'ra caraças.
Depressa passou para o tempo, o calor, a amplitude térmica da cidade... chegando a vez dele de fazer o pedido, que consistia num cone de gelado.
Quando se pensa que a coisa não pode piorar, é certo e sabido que piora. Oh, se piora!
Além de não se ir embora e de eu ter o azar de só uma das coisas pedidas estar pronta a entregar, manteve a conversa enquanto lambia avidamente o seu gelado, qual vaca beijoqueira de boca bem aberta e língua motivada a apanhar toda bola espetada no cone.
Passei a saber, sem abrir a boca senão para meia duzia de grunhidos que largava enquanto olhava nervosamente à volta, na esperança de chegar o restante pedido, que o senhor tinha 50 anos e que era de Lisboa estando aqui há já alguns anos. Bom para ele... mau para mim.
E continuava a amarfanhar o gelado, tendo já um pedaço no canto da boca que evitei a todo o custa fixar. Numa lambidela mais energética, terei na certa feito um ar meio enojado ou coisa semelhante, que lhe provocou um largo sorriso e a generosa oferta de um pedaço quase enfiando-me o dito cone cara dentro.
Continuou o monólogo, passando pelo estado do país, a discrepância entre o que esperamos obter de realização profissional e o que a realidade tem para nos oferecer, em mantendo a presente conjuntura... passou ainda por querer saber se eu era daqui, se estudava e... quando recebi o meu pedido, finalmente, com a urgência de me segurar ali, ainda atirou que gostava de continuar a discutir aquele assunto comigo, se eu tivesse um tempinho... Não, não tenho um tempinho. Definitivamente o meu tempo nem existe.
O desespero, eu a caminhar, ele ao lado, a querer dar-me o contacto e eu a sair, já sufocada.
Diz que vê o que se passa, que sabe ouvir, que bem vê e ouve a realidade e as coisas... que posso contacta-lo para um dia se conversar. Não me largando, não vejo outra opção de fuga senão o de apanhar a porra do contacto dele e desandar. Tiro o caderno, caem-me alguns dos papeis onde escrevo tretas sem pés nem cabeça. Apanha-mos, botando olho à socapa. Escrevo o nome, o mail e o nº de telemóvel dele, com aqueles olhos de vigia. Nas pressas, deixo cair um dos meus sacos de comida. Odeio-me por aquilo, mas já não sabia como escapulir-me.
Despeço-me com um então, adeus boa tarde, espeta-me dois inesperados beijos nas bochechas. Começo a afastar-me nitidamente com ar de quem está num filme de psicopatas e ele, juro, continuou a olhar para mim com os típicos "Crazy Eyes" enquanto dizia: contacta-me, vou ficar à espera.
What the Fuck is Wrong With Me?!
Como ser social que sou, após um trauma destes fiquei no jardim sozinha, a amaldiçoar os nuggets sem molho que comi a custo, tendo apenas como consolo a playlist de quebrar corações, alternado com o engolir em seco ao pensar que posso estar numa lista de xonés.
11 comentários:
Muito bom! Não há nada de errado contigo, o mundo é que está cheiiinho de "piantados".
Já perecebi porque é que nas "grandes cidades" as pessoas não observam e/ou fazem contacto ocular, não colocam questões (mesmo que simples) e têm sempre um ar muito apressado: é para fugir dos "piantados", eheheheh!
Entretanto é melhor queimar o caderno.
Já viste este?
;D
Vai bem com esta tua posta.
http://www.youtube.com/watch?v=jB4xlYKAVCQ
Como é que tu deixaste chegar ao ponto da beijoca nas bochechas? :D
Eu tinha-me pisgado a correr! (história divinal, imagino o teu ar.. :P é cada freak!)
Também tu?
Eu não deixei coisa nenhuma. Saltaram-me os olhos, saltou-me a comida, os papeis e eu saltei de seguida. bem se vê que não são looney magnets. Felizmente encontrei outra que me compreende perfeitamente. :/ Difícil, isto.
Ácido, ainda não vi, não. Devo ver? Devo? ;)
Ahahahah! Tens toda a minha solidariedade e toooodo o meu apoio. Não te quero qualquer dia em psicanálise à conta do teu magnetismo avariado, miúda! ;)
Ou terás que me ajudar com medicação forte. :p
Ná.. ;)
Sim! Vale a pena ver o Slacker (Richard Linklater), e está na intrega no tubinho. :)
Dei conta. Já há muito filme por lá, tenho alguns canais subscritos. Alguns dos quais legendados, o que facilita imenso a visualização à noite. :D
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