quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Euristides Clumsy (continuação)

(...)

Sem alongar demasiado a história, que contar tudo era fazer pouco de desgraça alheia, há que saber que Euristides nunca foi feliz.

Tinha ouvido uns zunzuns de colegas em conversas de balneário do quão tinha sido excelente (naturalmente os termos não seriam estes , mas Clumsy recusava certos vocabulários que agora até o faziam tremer) o que a menina X tinha feito da sua cintura para baixo, do seu pescoço para cima... um vai-vem de elevador, mais não sei que objecto a entrar, mais não sei o quê que faz cócegas, mais o cinto... ai o cinto!!! que ele, infelizmente agora conhecia e que não entendia como alguém suspirava por tal... Caramba, ele era um homem sério! E muito homem!

Toda esta parafernália havia de acompanha-lo até à sua morte e a sua sorte e falta de jeito também, mesmo depois de morrer...


Pois um dia, sua esposa, achou que a relação teria que ser apimentada. Que Euristides era muito reprimido, que tinha que começar a gozar os prazeres da carne a sós, de forma a entender o seu corpo, as suas preferências para poder depois partir para aventuras mais altas a dois ou a três ou... sabe Deus, aquela mulher não queria parar!


Achou ela por bem, então, inicia-lo na prática de asfixia auto-erótica. Deu-lhe umas dicas e tal, umas pecitas para ele escolher, umas fotos dela supostamente interessantes e disse que ia filmar, para garantir que ele tentava, que se esforçava pela relação saudavel de ambos.

Euristides apenas suspirava ao ouvir a palavra saudavel...

Que assim fosse, pensou, e tentou com uma espécia de corda macia. Arquitectou uma forma de a prender à porta do quarto, junto aos degraus que desciam para o corredor e garantiu que ao colocar no seu inocente pescoço, não ficaria pendurado sem querer. Não que a ideia de "se ir" de vez lhe parecesse, naquele momento, antipática...


Ficou a sessão marcada para o dia seguinte, com tempo e disposição.

Sua esposa, de tão hilariante, nessa noite não o largava. E ele sem achar gracinha nenhuma, que tinha andado a limpar o quarto, a sala, toda a casa, pois aquela mulher deixava os "seus objectos" por todo o lado... Até aquele cone inexplicavel que toda a gente pensava que era daqueles objectos que perfumam a casa, sempre ali, pousado na mesa de café, para esfregar a depravação na cara de todos, o tirava já do sério!
E ela ainda assim, ali andava, atrás dele, com aquele zunido de pilhas a fazer coro com as promessas de o levar ao céu.
Só a conseguiu fazer desistir, sossegando-a com a ideia de querer estar fresco para a experiência seguinte, largando ela o objecto ameaçador no mesmo segundo.
E assim dormiram... mal, muito mal. Ela com a excitação e ele a tremer o dente.

Chegou a hora fatídica, tudo a ser filmado e ele a preparar o cenário...

Com a corda ao pescoço, foi ganhando coragem para se deixar pendurar um pouco, mais um pouco, quando... escorrega naquele maldito objecto cilindrico a pilhas, fazendo resvalar os seus pés para os degraus, perdendo o controlo dos pés, das mãos, do pescoço, da vida...

A sua morte foi a derradeira vergonha, pelo que não vale a pena pormenoriza-la. Os seus sogros ficaram pasmos, sem perceber muito bem, mas desconfiando de algo pouco digno e sua esposa ficou desgostosa e sem vítima.

Tentou abafar-se qualquer coisa suspeita e tratou-se do funeral.

Sua viúva resolveu ir sozinha, à frente, no carro funerário e levou consigo uns objectos pesssoais para se lembrar do seu falecido amado. Um desses objectos, para espanto do condutor, era o bendito cinto... Pois aconteceu que a parte interessante do cinto, quando este caiu, se foi colocar ao pé do travão!

Toda a situação caricata atrapalhou o condutor que não conseguiu travar, estando um membro viril de borracha a prender o pedal, e ao tentar os pedais todos acabou a acelerar e a embater nos carros da frente, causando choques em cadeia.
É que quis o destino que nesse dia além do funeral, houvesse um casamento e tudo a ir para a mesma igreja numa confusão de horários, de carros, de gentes!
Ou não fosse o funeral de Clumsy...

Foi um acidente de tal forma brutal, que as mortes foram inúmeras e ninguém sabia quem era quem e onde pertencia, o caixão tinha saltado pelos ares, tinha-se aberto, voando Clumsy livremente, não podendo no entanto já gozar o momento.


- Mas afinal onde está o morto, pelo amor de Deus??!!

- Mas qual deles?!
- O morto! O morto oficial! O que seguia para o cemitério!
- Hummm... eventualmente é onde todos vão parar...
- Estou a perder as estribeiras! Refiro-me ao morto, o que já o estava efectivamente, o que ia no carro funerário!
- Aaaaahhh! Perdão! Mas então, é só ver quem está no caixão!
- Você vê algum caixão, homem? Vê? É o fim, é o fim!!! Nunca se viu nada assim desde que aqui ando... no maximo saltou-me um caixão da carrinha numa auto-estrada, mas ninguém deu conta e enfiei-o de novo lá dentro... Ai de mim!!! Que tipo de publicidade isto me vai trazer... Onde é que o morto me foi parar...
- Simples! É só ver qual dos homens está de fato!
- Está a gozar comigo? Já viu bem os outros carros? Os outros homens? Havia um casamento, por Deus! Está tudo vestido a rigor e até os homens estão maquilhados!!! No meu tempo isto não era assim... Já nem sei se foi sorte eu sobreviver, valha-me Deus!
- Peça a alguém para o reconhecer!!
- A noiva morreu, o sogros morreram, os pais também... sobrou um primo afastado da noiva e uma avó. O primo afastado nem o conhecia de lado nenhum, ia vê-lo pela primeira vez... e a avó, pobre senhora, nem se lembrava do que fazia ali... Oh desgraça!!

Pois bem... depois de horas de desespero, já que a maioria estava morta, ficaram os vivos a dividir quem conheciam.

O resto... Bom, o resto é melhor nem contar.
Digamos cá entre nós que Euristides Clumsy ficou enterrado com direito uma campa com o nome de um tio de sua esposa, muito conhecido por adorar vestir-se de bailarina, fazendo pliés com um nó ao pescoço e sentando-se alternadamente num cone que todos julgavam ser uma espécie de Brise contínuo...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Carmen Miranda de trazer por casa

A fruta não se deve querer demasiado viçosa, ainda a deixar amargo de boca e, provavelmente, bichada.
Também não se deve querer a caír de podre, já não traz prazer nem doçura e estar bichada é também aqui uma grande probabilidade.
Deve desejar-se a fruta madura, no ponto, pronta a ser saboreada em bom tempo, com calma, com casca ou descascada. Logo pela manhã, de sobremesa ou mesmo antes da refeição.
Mas achar boa fruta nos dias de hoje...