terça-feira, 22 de setembro de 2009

F. andava estonteadinha, abafada, o calor tornava-a tola e muito esquecida. Ou pelo menos era a desculpa que usava.
Ia ao encontro de alguém ou o contrário, não sabia bem. Tinha-se esquecido do ponto de encontro e de quem ia encontrar.
Quando tinha assim umas baforadas de memória, punha-se a caminho, como se estivesse muito decidida!

_ Eia! Um rio de águas cristalinas!! Eu cá é que não vou perder isto! Só assim um mergulhito, um refrescar-me, assim de leve, de repente... Vendo bem, se me apanharem assim fresca, concerteza será bem melhor!

Ou então parava para um pastel de nata. _ Que shot fantástico! Já devo estar atrasada, mas se for mais alegre deve ser bem melhor, não é?!

Desconfio que F. andou nisto muito tempo... passava o Verão, o Inverno e aí era uma sauna ou um aquecedor a óleo que a travava, quem sabe um bar quentinho, uma tripa em Aveiro, uma ginginha em Óbidos, um chocolate quente em Coimbra, um tinto em Lisboa, um tango... Desconfio que correu o país, desculpando-se que era bem melhor se chegasse mais quente, mais fresca, mais alegre, mais docinha...



_ És feliz assim?
_ Claro que sim! E tu, já encontraste a Felicidade?
_ Huumm... acho que... Desconfio que ela é que ainda não me encontrou!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009


The Angel of Meat - Mark Ryden

Tinha esta paixonite aguda por D. desde sempre. E desconfiava que era coisa para durar uma vida de tartaruga!
Não pensava nele todos os dias, não se lembrava do seu cheiro, era mesmo capaz de passar meses sem o ver. Só poderia ser mesmo assim, pensava...

L. já conhecia D. há muito. Não conhecer de "olá tudo bem, vamos tomar um café", mas um conhecer de manhas, de cama, de copos e de arrufos, de estou-te a topar mas vou fazer que não. Um conhecer de adeus mas fica para sempre.

E D. foi ficando, para contentamento de L., que desejava que fosse de contentamento para D.. Assim uma história confusa e de muita comichão, como eles mesmos o eram.

Quando se voltavam a ver, a coisa custava a arrancar; era um incómodo de bicho a morder ou de açúcar no corpo, sabe-se lá, um repente de língua afiada.
Depois o incómodo passava e estava na hora de novo adeus. Adeus, espera lá mais um bocado que tenho muitas mais abelhas para te atirar, um espinhito ou outro para lançar, junto com mel, perfume e umas palmadas nas costas.

Era uma mixórdia, uma espécie de amor platónico. Era isso, era um amor platónico pensava L. muitas vezes... mas arrepiava. Não era nada!
L. lá era dessas coisas?! Não era cá de amores sem línguas embrulhadas! E os toques e afagos? E os desejos e os calores?! Não...nada disso! Era assim mais...

...

- És feliz assim?
- Claro que sim! E tu, já encontraste a Felicidade?
- Huumm... acho que...

terça-feira, 1 de setembro de 2009


1:30 Está na hora!

...

- Juro! - dizia ele convicto, imaginando já todo o filme.
Na verdade, desde que entrara num filme, julgava-se muito conhecedor. Do quê? Não sei...
- A esta míuda, estás a ouvir mana, a esta miúda vou-lhe pôr uma motosserra nas unhas! Hei-de fotografá-la assim! Estás a ouvir mana?
Tudo era mana para ele. Até o amigo do lado.
- Estás a ver aquele palácio? Tu não sabes o que é aquele palácio, mana!
- Não... só lá durmo...
Impaciente, já só conseguia lançar umas respostas secas, olhando para o lado e imaginando com alguma satisfação o que faria se tivesse mesmo, naquele momento, uma motosserra nas unhas...
Ele, contrariado com a resposta, cuspiu um "pois, vais lá nas férias! O que não sabes é que aquilo está cheio de canhões!"
- Quem dera - pensa. Dava-lhe tão belo uso neste momento... Motosserra...canhão... estou indecisa. Pelo menos isto mantia-lhe um sorriso, embora já enregelado. A hora do pão quente aproximava-se e planeava grandes vinganças. Alguém tinha que lhe comprar o pão com chouriço...