sexta-feira, 23 de março de 2012

Querido Diário:

Estou num sério queixume; perdi o meu tempo.

Tentei ainda agarrá-lo com unhas e dentes, mas não houve volta a dar...
Como poderei eu lidar com isto?! Estou chorosa, ranhosa, em polvorosa.
Coloquei anúncios em jornais, Facebook, blogs, páginas de perdidos e achados, placards dos supermercados, vidros de cafés e padarias...

Uma miúda que perde assim o seu tempo fica abespinhada, descabelada, levanta voo, cerra punhos, range dentes, ganha vermelhidões, e na certa que deita fumo pelas orelhas.
(Há muitas coisas que deixam uma miúda assim)

Vivendo numa cidade pequena, quase aldeola, bem se pode atar um lenço nas costas de uma cadeira, como qualquer velhinha de aldeia que se preze. Mas o tempo não aparece.

Foi-se, escapuliu-se, esvaiu-se, esfumou-se, voou, foi com o catano!

Bendito e louvado seja Santo António, sol brilhante que em Lisboa, França e
Itália, deu luz a mais rutilante: ó beato Santo António, que ao monte
Sinai subiste; o teu Santo Breviário perdeste, em busca dele voltaste
mui triste e uma voz do céu ouviste: “António, torna atrás, o teu santo
Breviário acharás; em cima dele Jesus Cristo vivo, três coisas lhe
pedirás: o perdido achado, o esquecido lembrado, e o vivo guardado.”


Ainda numa esperança saloia, lança-se a oração a Santo António para achar. Nada.

Tenho para mim que também ele ande à minha procura e num destes dias tropecemos um no outro; lágrimas, gargalhadas, felicidade em mim.


Miúda satisfeita é tod'Amor, toda enlaço, toda vermelhidão de face, mas sem fumo.

Não se recupera o tempo perdido.
Assim, tenho pensado seguir o caminho, aproveitando o tempo, este, o de daqui a pouco, o de amanhã... e chutando uns calhaus que se me atravessam nele.
E não me venham com a léria de guardar as pedras para construir um castelo... É que quando deito fumo, por vezes sabe bem chutar um calhau. Que querem...


2 comentários:

Post-It disse...

este post fez-me, automaticamente, lembrar esta música:
http://youtu.be/judh99G3-rs
e, também, ah ah ah, dos calhaus do castelo, daquele poema que diziam ser de Fernando Pessoa!... :DDD

Ninguém disse...

A música não posso ouvir agora; estou a fingir que estou atenta. Quanto ao poema, é mesmo a isso que me refiro. ;)