segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Do Outono a chegar até mim

Como se ainda em tenra carne tocasse
e o cheiro sentisse
de uma caneca de café
e bolos saídos do forno.
Como se ainda hoje esquecesse levar a mão à boca
que de alimento me sentia cheia
e hoje, de ti, vazia.
Como se ali sentado,
no móvel, junto à janela,
me enchesses ainda a casa e o peito.
E eu esperasse,
adivinhando as cobertas até ao pescoço,
- oposto a tudo o que é para outros olhos -
para me sentir pequenina e tontinha
mas pertencendo ali desde sempre.


2 comentários:

Post-It disse...

Alembrei-me da Adelita:

"É um chalé com alpendre,
forrado de hera.
Na sala,
tem uma gravura de natal com neve.
Não tem lugar pra esta casa em ruas que se conhecem.
Mas afirmo que tem janelas,
claridade de lâmpada atravessando o vidro,
um noivo que ronda a casa
- esta que parece sombria -
e uma noiva lá dentro que sou eu.
É uma casa de esquina, indestrutível.
Moro nela quando me lembro,
quando quero acendo o fogo,
as torneiras jorram,
eu fico esperando o noivo, na minha casa aquecida.
Não fica em bairro esta casa
infensa à demolição.
Fica num modo tristonho de certos entardeceres,
quando o que um corpo deseja é outro corpo para escavar.
Uma idéia de exílio e túnel."

Ninguém disse...

:)
Muito bem lembrado.