sábado, 26 de maio de 2012

Diz que anda morta há muito tempo. Que não deu conta.
Passou os dias em mero arrastanço, contando um atrás do outro, ouvindo a marcha fúnebre e dando risadinhas  saltando de pés nos chinelos, nos melhores dias. Qualquer coisa na marcha fúnebre a divertia. 
Estava mofenta e quase desarticulada. Prendia-se com guitas coloridas e usava colónia de alfazema.
E contava um dia atrás do outro.


Diz que esperava um milagre e que ele chegaria. Guardava a sua melhor roupa e o seu melhor sorriso para o dia. Caso demorasse, até tinha uma placa guardada. Que sorriso bom é cheio de dentes, é cheio de vontade, é cheio de si.


Diz que anda morta, mas não é parva. Que há mais no mundo e comprou óculos de ver. Mas ver bem, de perto, como se quer. Que perto bom é aquele de sentir o cheiro, de sentir o respirar,  de sentir o quente. E tinha as pernas frias há demasiado tempo. 


Diz que anda morta. mas já vê a luz...

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