sexta-feira, 20 de junho de 2008

Escalar-te lábio a lábio,
percorrer-te: eis a cintura
o lume breve entre as nádegas
e o ventre, o peito, o dorso
descer aos flancos, enterrar

os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro
ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta

aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão.

porque é terrível
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve.

abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho
-a glande leve.


Eugénio de Andrade

5 comentários:

Post-It disse...

Uh Uh , que malandrinho era o eugeninho! ;p

Ninguém disse...

Era este o poema que me andava perdido... Encontrei!

;)

R. disse...

Uhhh,calor,calor.....
Não conhecia este do Eugeninho.Muito bom!!

Toma lá esta chançon.combina bem com o poema ;P

www.youtube.com/watch?v=txLPlvkGiP4

Abssinto disse...

Era uma maluca, o Eugénio, mas gosto da simplicidade.

Ninguém disse...

Liiindo, V! ;D

Gosto de Eugénio de Andrade. E este poema, então...


Bj